Protesto de universitários britânicos provoca violência e paralisa Londres

Contra cortes. Pelo menos 50 mil estudantes saem às ruas da capital da Grã-Bretanha e prédio do Partido Conservador é depredado em reação ao aumento de anuidades das universidades, proposto por Cameron para conter endividamento público

11 de novembro de 2010 | 0h 00   
Reuters e AP - O Estado de S.Paulo
Cerca de 50 mil estudantes tomaram ontem as ruas de Londres, revoltados com o aumento de anuidades de universidades promovido pelo governo conservador de David Cameron, que vem adotando ambiciosas medidas para cortar o gasto público da Grã-Bretanha. A multidão cercou o prédio do Partido Conservador, no centro da capital britânica, estraçalhando vidraças e incendiando cartazes aos gritos contra Cameron.
Ao todo, 32 estudantes acabaram presos e 10 pessoas - incluindo policiais - ficaram feridas. Segundo a Scotland Yard, os ferimentos não foram graves.
Alguns dos universitários conseguiram invadir o edifício do partido de Cameron para depois ser colocados para fora, à força, por policiais. Outros escalaram um prédio vizinho até o topo, de onde passaram a atirar objetos contra os soldados antidistúrbio - incluindo um extintor de incêndio.
A polícia também entrou em choque com a multidão de estudantes no lado de fora do comitê do Partido Conservador.
A violência teve início durante uma grande manifestação pacífica que tinha sido convocada por estudantes e professores universitários. A multidão carregava cartazes com frases como "Parem os cortes" e "Eles cortam, nós lutamos".
Situado a poucos metros do QG conservador, o Parlamento britânico também acabou cercado por estudantes. Deputados devem dar seu aval a Cameron para que a Grã-Bretanha corte, progressivamente, pelo menos US$ 130 bilhões até 2015.
O Parlamento votará nos próximos dias a lei específica do caso das universidades. Caso seja aprovada, a medida elevará para 9 mil libras (US$ 14.500) o teto da anuidade no ensino superior. Atualmente, o limite é de 3.290 libras (US$ 5.264).
Ainda de acordo com os planos de Cameron, estudantes continuariam a ter o direito de pagar a taxa das universidades com empréstimos de governo. Mas os juros cobrados após o aluno se graduar seriam elevados e adaptados à renda de cada um depois de formado. Assim, quanto maior for o salário, maior será a quantia paga ao governo pelos empréstimos. Após 30 anos, a dívida é suspensa.
A anuidade de universidades é um tema especialmente espinhoso na Grã-Bretanha, onde os centros de ensino recebem elevados subsídios do governo. Até o início do governo trabalhista de Tony Blair, no fim dos anos 90, estudantes não pagavam nada pelos estudos. Após ser adotada, a taxa de anuidade foi crescendo gradualmente até os níveis atuais.
Estudantes reclamam também dos cortes nos salários de professores universitários prometidos pelo governo. Segundo eles, os alunos acabarão pagando mais por um ensino de pior qualidade.
"É preciso deixar claro que o governo está nos pedindo para pagar três vezes mais por uma universidade que provavelmente não será tão boa quanto a que temos atualmente - ou será ainda pior", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Estudantes da Grã-Bretanha, Aaron Porter.
Comparada a outros países que também adotaram nos últimos meses duros pacotes de austeridade - como França e Grécia -, a Grã-Bretanha vinha passando praticamente imune aos protestos de rua.
Os universitários que paralisaram Londres ontem prometem voltar a protestar . Sindicatos e funcionários públicos também estão programando greves gerais contra os cortes.
A polícia britânica já está sendo criticada por não ter mobilizado força suficiente para conter a violência dos estudantes.

PARA LEMBRAR
França e Grécia tiveram série de protestos
Centenas de milhares de trabalhadores e estudantes franceses tomaram as ruas em um ciclo de protestos que marcou os meses de setembro e outubro na França. Manifestando-se contra uma reforma previdenciária que acabou mudando a idade mínima para aposentadoria na França de 60 para 62 anos, os franceses realizaram greves que paralisaram os transportes e ameaçaram o abastecimento de combustível no país. Uma série de confrontos deixou inúmeros feridos e trouxe caos à França. Mais de 200 pessoas foram presas. Segundo o governo de Nicolas Sarkozy, as greves e os protestos custaram pelo menos 1,6 bilhão à economia da França. O Senado aprovou a reforma previdenciária abrindo caminho para que a Assembleia Nacional passasse o projeto 336 votos a favor e 233 contra, no dia 27. Em maio, na Grécia, cerca de 100 mil pessoas foram às ruas de Atenas apoiar uma greve contra um pacote legislativo que previa o congelamento dos salários de funcionários públicos e o aumento de impostos. Três pessoas morreram nos confrontos.

PONTOS-CHAVE
Educação
Além de praticamente triplicar a anuidade de universidades, Cameron quer cortar salários de professores. Alunos alertam para a provável queda na
qualidade do ensino britânico

Serviço público
Pelo menos 490 mil cargos na burocracia do Estado britânico serão eliminados por Cameron nos próximos cinco anos
Arrecadação
Cameron pretende elevar os impostos para aumentar a arrecadação em pelo
menos 29 bilhões de libras (R$ 77 bilhões)

Corte total
US$ 130 bi
Em gasto público britânico devem ser cortados pelo novo pacote fiscal
Defesa
Embora esteja em guerra no Afeganistão, a Grã-Bretanha reduzirá em pelo menos 8% o atual orçamento de Defesa

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