Araraquara é palco potencial para música sertaneja

Os tradicionais viola caipira, violão e acordeom, que historicamente caracterizavam a música sertaneja - ou caipira -, deixaram de ser a base das duplas de canto cheias de histórias rurais para dar lugar a instrumentos mais ‘pesados’ como bateria, guitarra e sanfona eletrônica. São eles que agora dão o tom e o ritmo da chamada nova música sertaneja.

Entre as diversas vertentes que o estilo ganhou, o sertanejo universitário - batizado dessa forma para se diferenciar da cultura de raiz - é a variação que mais arrasta multidões de fãs para os sempre superlotados shows de duplas ou cantores solos do gênero. As letras que antes expressavam os sentimentos do homem do campo foram substituídas por composições que se aproximam do cotidiano urbano, transformando gostos e preferências.
Por muito tempo caracterizada no interior de São Paulo como um reduto do samba e do pagode, Araraquara se transformou, em 2010, num concorrido e disputado palco para os shows sertanejos e tornou-se preferida até pelas atrações que mais fazem sucesso no Brasil atualmente. O fenômeno do momento, o jovem Luan Santana, de 19 anos, aterrissou na cidade duas vezes este ano. Seu último show, em novembro, reuniu 12 mil pessoas no Clube Araraquarense, mesmo número de público registrado pela dupla romântica Victor & Leo - uma das que mais mantém as características originais do sertanejo -, que se apresentou na cidade no início de dezembro.

Tanto Victor & Leo como Luan Santana se apresentaram na cidade trazidos pelo mesmo projeto: o Tim Azul, um circuito musical que realizou oito shows em sete cidades do Interior Paulista. Entre elas, Araraquara foi a única a receber duas atrações da agenda. Érika Cascão, diretora comercial da TIM, comenta que a opção pelo interior de São Paulo e a preferência por Araraquara devem-se à grande concentração de público para este tipo de música e à riqueza do Estado.
"O Interior do Estado de São Paulo é mais rico que qualquer outro Estado brasileiro, tem um potencial enorme para a economia e um poder cultural invejável", ressalta Érika. "A TIM trabalha o Circuito Azul por códigos de área e em 2010 Araraquara foi a cidade escolhida com o código 16 - o ano passado foi Ribeirão Preto. Mas foi a primeira vez que levamos duas atrações com intervalo pequeno de tempo a uma mesma cidade, tamanha sua identificação", explica a diretora comercial da TIM. Além disso, na visão de Érika Cascão, Araraquara é uma cidade que consegue centralizar outro grande pólo da Região: Ribeirão Preto.

O som das universidades

Um dos fatores importantes para a identificação de Araraquara com o mundo da "nova" música sertaneja é o grande número de universitários na cidade.
Ninguém sabe explicar ao certo o que veio primeiro: se a variação musical surgiu com duplas que foram criadas enquanto frequentavam as universidades e "modernizaram" o som sertanejo; ou se o sertanejo universitário tem esse nome apenas por conta do público que atinge.

Fato é que as festas realizadas por esses estudantes estão cada vez mais repletas de atrações sertanejas. Na opinião dos universitários, o ritmo mais dançante, que ajuda na azaração, tornou o "sertanejo moderno" mais comum nas baladas das Atléticas (associações estudantis). "Esse novo sertanejo agrada o consenso do público dessas festas e é ideal para nossas baladas", diz Pablo Sostena, aluno de pós-graduação na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp. "Sempre curti outros estilos de música e aprendi a gostar do sertanejo, que é o que mais toca nas festas. Acho melhor que o original, com mais instrumentos e com letras que seguem o mesmo padrão, falando de amor à farra", completa o estudante.

O mesmo fenômeno observado atualmente com o sertanejo universitário foi experimentado há mais de dez anos pelos grupos de pagode, que enfrentaram a resistência das Atléticas e passaram a se apresentar nas festas das universidades onde até então só entravam o rock ou o reggae. "No começo foi difícil. Quando nos reunimos com as Atléticas e propomos shows para as festas universitárias, muitos torceram a cara e saíram da sala. Mas aos poucos fomos conquistando público", recorda Tiaguinho, integrante do Cascabum, um dos grupos que mais teve agenda em festas universitárias na cidade e na Região. Hoje, o Cascabum continua se apresentando nessas festas, mas dividindo o palco com os grupos sertanejos. De acordo com Tiaguinho, as apresentações solo da banda caíram 30% em 2010.

Em contrapartida, os araraquarenses Marco Antônio & Rolfe Jr. - que precisaram abandonar o nome de Pedro & Bino por conta de problemas com direitos autorais - viram, mesmo a contragosto, suas apresentações crescerem na onda do sertanejo universitário. Para Rolfe Jr., esse novo ritmo descaracteriza o sertanejo de raiz, "mas é preciso acompanhar as novidades para não perder público". "Temos nosso público fiel para o sertanejo de raiz, mas precisamos incorporar sucessos como ‘Meteoro’, do Luan Santana, para não sermos cobrados, nem descontentar a plateia", arremata o cantor.
Para Teroca, estilo tem prazo de validade
Na opinião do sambista araraquarense Teroca, estilos como o pagode e o sertanejo universitário surgiram como forma de colocar no mercado derivados mais populares das músicas de raiz, sem qualidade, e que, por isso, têm prazo certo de validade.

"São músicas com refrões fortes e de fácil assimilação pelo público, que tem cada vez mais preguiça de pensar. O povo precisa dessa mudança, que é externa, porque dificilmente consegue mudar o seu interior", diz o sambista.

Tendo o ambiente universitário como alvo prioritário, essas novidades crescem em velocidade avassaladora e preocupam quem trabalha no meio educacional. Para Teroca, que além de musico é professor, o interesse por essas músicas é derivado do declínio da educação. "Hoje, só é reproduzido o que faz sucesso no mundo globalizado. Os jovens não processam mais as informações. Apenas reproduzem o que chega aos seus computadores", comenta o sambista.

"Da mesma forma que o pagode deixou de lado as crônicas sociais cantadas pelo samba, o sertanejo universitário ignora os sentimentos da moda de viola e a cultura se perde", aponta Teroca, que acredita em um ciclo, que deve ser seguido com novas mudanças no samba assim que o público do sertanejo universitário enjoar do que consome neste momento.

fonte: Araraquara.com

Portal Araraquara Hoje

Criado com a intenção de unificar as notícias mais importantes de Araraquara, região, Brasil e mundo.Créditos da imagem: Núcleo de Artes Visuais de Araraquara