Imóveis desocupados: um novo tipo de vazio urbano

Imóveis estão vagos por vários motivos, entre eles por estar em construção (Foto:  Lucas Tannuri)



O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o número de imóveis vazios em Araraquara seria suficiente para abrigar ao menos 30 mil pessoas. O número corresponde a 75% do déficit habitacional de Araraquara - a cidade tem 9.672 prédios vagos, com faixas para locação ou em situação de abandono, que contrastam com as mais de 13 mil famílias sem moradia própria.

A quantidade de residências disponíveis ainda seria capaz de abrigar quase toda a população de uma cidade do porte de Américo Brasiliense, que ocupa 10.174 casas, de um total de 10.893 domicílios, e tem cerca de 34 mil habitantes.

Nos últimos dez anos, o total de imóveis em Araraquara aumentou 23% - saltou de 63 mil, em 2000, para os pouco mais de 78 mil atuais.
Dois fatores influenciaram esse crescimento: as políticas de ocupação urbana e a especulação imobiliária. Para especialistas, isso aponta uma tendência. Enquanto a ocupação de terrenos avança, o município começa a ter um novo tipo de vazio urbano, composto por imóveis não ocupados e não mais os terrenos baldios.

Para o economista Eduardo Róis Morales, docente do Centro Universitário de Araraquara (Uniara), o total de residências vazias reflete a expansão imobiliária vivenciada pelo município e intensificada com o programa "Minha Casa, Minha Vida", do Governo Federal. "Uma grande construtora tem mais empreendimentos aqui do que na Capital. Em Araraquara, são 11 em andamento e muitos outros em fase de aprovação, contra oito em São Paulo", discorre.

João Farias, secretário municipal de Habitação, reforça a teoria, mas diz que, no órgão, ainda não se pensou na inclusão desses imóveis na política habitacional. Ele acha, inclusive, difícil que isso ocorra. "Em nenhum momento paramos para pensar em alternativas por conta dos imóveis vagos, até porque eles têm diversas especificidades. Ou seja, há desde aqueles que atendem a uma classe mais baixa até classes mais elevadas", avalia.
Fomento
Independentemente de estarem vagos, para Farias e Morales esses imóveis fomentam a economia da cidade. "É uma disparidade, mas ao mesmo tempo, precisamos reconhecer: o mercado imobiliário se tornou um negócio altamente rentável", analisa Farias.

Para Morales, a questão evidencia a carência de programas habitacionais para a classe mais baixa. "A maioria dos projetos é direcionada às classes média e alta, e não para quem precisa de casa. Isso mostra que os programas habitacionais não têm dado conta de abrigar a população mais carente", conclui o economista.

Portal Araraquara Hoje

Criado com a intenção de unificar as notícias mais importantes de Araraquara, região, Brasil e mundo.Créditos da imagem: Núcleo de Artes Visuais de Araraquara