Proposta de redução na jornada do comércio aos sábados divide opiniões


Um projeto de lei propondo redução de três horas no atual horário de funcionamento do comércio araraquarense aos sábados está dividindo opiniões e gerando polêmica mesmo antes de entrar na pauta da Câmara Municipal - o que deve ocorrer dentro de 15 dias. De um lado, comerciantes preocupam-se com a perspectiva de uma redução de até 50% nas vendas dos finais de semana e consequentes demissões. De outro, o vereador Serginho Gonçalves (PMDB), autor do projeto, diz representar o anseio de funcionários do comércio, principal empregador da cidade, com mais de 11 mil contratados.

Pela sua proposta, os estabelecimentos comerciais seriam autorizados a abrir apenas entre 9 e 14 horas aos sábados. O horário atualmente em vigor é das 9 às 17 horas.

Serginho afirma basear-se não apenas em relatos de comerciários, mas também no de pessoas em busca de emprego. "Recebo moradores diariamente pedindo ajuda para elaborar currículos e, quando sugiro trabalharem no comércio, eles afirmam não querer por conta de não ter o sábado", conta.

Ele também diz ter pesquisado os impactos da medida, durante os últimos dois meses em que passou elaborando o projeto, e constatado que não haveria quedas nas vendas nem risco de demissões, pois o consumidor se reorganizaria. "Existem, no sábado, períodos ociosos em que não há quase consumidores nas lojas. Todos passariam a ir em um horário só", diz.
Retrocesso
O Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) e a Associação Comercial e Industrial de Araraquara (Acia) contestam a previsão de Gonçalves. De acordo com Antônio Deliza Neto, presidente do Sincomércio, há picos no número de clientes durante todo o sábado. "Vou esperar para conhecer melhor a proposta do vereador, mas já entendemos que reduzir o atendimento aos sábados é um passo atrás e vai prejudicar todo o setor", pontua.

Deliza também é taxativo ao prospectar corte de postos de trabalho. "Estou preparando um levantamento e nele temos a evolução do emprego após a abertura do comércio aos sábados. Se mudar, essas vagas serão reduzidas", considera.

Renato Haddad, presidente da Acia, considera a proposta um retrocesso. "Não é bom para o comerciante nem para o comerciário", afirma. De acordo com ele, os mais impactados com as medidas seriam os pequenos lojistas, que respondem por pelo menos 80% dos empregos gerados no setor. "As grandes redes cassariam a lei com uma liminar e abririam e o pequeno empreendedor seria o maior prejudicado", diz.

Eder Magrini, gerente de uma loja de confecções, ‘faz coro’ a Haddad. "Se aprovar, vamos contestar na justiça, porque não podemos perder vendas", afirma.
Haddad também acredita que o recuo do horário aos sábados afetaria toda a região. "Uma cidade que vem se tornando a alavanca do desenvolvimento regional não pode fechar o comércio aos sábados", afirma.
Sindicalista prega consenso
O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Araraquara e Região, José de Matos Filho, apoia a iniciativa do vereador Serginho Gonçalves, mas frisa que o ideal seria "chegar a um consenso entre as partes".

Segundo ele, o principal impacto da abertura estendida das lojas aos sábados é a sobrecarga de dias trabalhados pelos comerciários. "A mulher não tem folga. Trabalha de segunda a sábado e o domingo é o único dia que sobra para seus afazeres domésticos", pontua. De acordo com o sindicalista, as mulheres representam 52% da força de trabalho no comércio.
Para consumidores, atual horário é cômodo
No comércio, o sábado é o principal dia de vendas porque a maioria dos consumidores trabalha meio período ou está em folga. A diarista Adenilze da Cruz, de 36 anos, diz que a possível redução de horário atrapalharia as suas compras. "A gente trabalha durante a semana toda, então o sábado é uma opção para ir às lojas com mais calma", diz.

Angélica Soares, 31, doméstica, é indiferente à questão. Já para a dona de casa Ana Carvalho, 64, todos dividem o prejuízo: comerciantes, comerciários e consumidores. "Nunca está 100% bom para ninguém. Mas, de fato, abrir até as 17 horas aos sábados é melhor para nós".

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