Depois de lutar por quase 8 anos contra um câncer cerebral, o jornalista Álvaro Tanigutti pressentiu que já não havia como resistir. Dois meses antes estava consciente de que o desenlace estava próximo porque o organismo mostrava um declínio anormal. Inteligente e pesquisador, Alvinho, como era chamado pelos colegas de redação, começava a deixar claro que não estava temendo o seu encontro com o outro lado. Não falava frontalmente sobre a morte, talvez não por ele, mas para evitar constrangimento aos próprios colegas que tinham conhecimento da gravidade da doença e das suas poucas chances de vencer o tumor.
Uma reportagem na Revista Época focou o trabalho em uma comunidade espiritual em Abadiânia, no Estado de Goiás. O jornalista José Carlos Magdalena, no retorno da viagem, comentou sobre a beleza da paisagem, quando Álvaro observou: “Será que do outro lado é assim, tão bonito? Vamos combinar: quem passar para o outro lado primeiro, volta pra contar”.
Ele fez esta menção e deu aquela risada
gostosa, pois sabia que estava com ele 99% de possibilidade de passar
primeiro para a outra dimensão. E foi o que aconteceu. Passados sete meses, Alvinho enviou uma mensagem através de um centro espírita de Américo Brasiliense. Começa assim: “Amigo Madá, conforme combinamos”, e passa a revelar, com sutileza, aspectos surpreendentemente simples sobre o outro lado. Ele diz que a saudade dos familiares e amigos é a fase mais difícil. Não existem diferenças marcantes entre as vidas lá e aqui. Deixa compreender, nas entrelinhas, que ainda está sob os cuidados de uma recuperação que deverá ser muito profunda. O seu dia-a-dia é marcado pela expectativa daquilo que irá se suceder após a sua recuperação. Para enviar a mensagem, ele sentiu uma exaustão que foi crescendo, enquanto sua lucidez ia se apagando, como ocorre com o declínio de uma bateria.
SIM!
