A proprietária de um bar próximo a um dos endereços indicados no Jardim
Brasil relata que todos os dias pelo menos dez pessoas entram ali para
perguntar sobre o tal local. "Desde que eu abri o bar, há dez meses,
tenho de parar o que estou fazendo para ficar dando explicações sobre
este lugar que não existe", declara Claudia Regina da Silva. "Me
incomoda muito. Eu imagino para o dono da casa."
Em outro ponto indicado em contas da CPFL Paulista (Rua São Bento,
esquina com a Avenida Prudente de Morais) deveria haver uma empresa
chamada Morada Cred. No entanto, a informação obtida nas lojas ao redor é
de que nunca existiu tal estabelecimento ali. "Todo dia vem gente
querendo pagar as contas aqui, mas nós não recebemos", conta uma
funcionária do varejão Preço Único, que fica exatamente na esquina
apontada no documento.
A reportagem foi a um terceiro estabelecimento indicado e encontrou, na
entrada da loja localizada no endereço, um cartaz indicando "Não
recebemos contas da CPFL". Márcia Vieira, proprietária, explica que foi
procurada por um funcionário da concessionária para saber se tinha
interesse em participar do programa, mas nunca chegou a instalar a
máquina da CPFL Paulista para o recebimento das contas. No entanto, há
quatro meses o nome de sua loja consta das contas emitidas pela
distribuidora de energia.
"Virou uma peregrinação de consumidores. Eles vêm deste lugar no Jardim
Brasil que não existe, chegam aqui e eu também não recebo. Dá dó porque
são sempre os mais simples que precisam pagar a conta em dinheiro. Vem
gente de todo canto da cidade e a maioria sai reclamando muito da CPFL
Paulista", diz.
Durante a entrevista com Márcia, o industriário Aparecido Silva
interrompeu a reportagem para saber se o local não recebia mais as
contas de luz. Ao ser informado de que conseguiria efetuar o pagamento
somente no Centro da cidade, reclamou: "Então, vou pagar a conta
atrasada. Já são 16h50 e lá eles só recebem até as 17 horas. Vim direto
do trabalho e vou voltar para a casa sem pagar a conta."
Sem vantagens
A comerciante acredita que a maioria dos estabelecimentos que se
cadastram para receber as contas deixa o programa em pouco tempo por não
haver vantagens para eles. "Querem que eu receba as contas aqui, mas
quem arca com os custos sou eu. É a minha energia, o meu funcionário,
até o risco de ficar com dinheiro aqui na loja é meu. Eles não oferecem
nada em troca", diz Márcia. "Os três locais que eu conheço que recebiam
as contas da CPFL Paulista foram assaltados e fecharam. Este serviço tem
de ser feito pelos bancos e lotéricas, que trabalham só com isso",
completa. Problema é pontual, afirma concessionária
Segundo Marcos Antônio Danella, gerente de relacionamento da CPFL
Total, a flutuação dos estabelecimentos cadastrados para receber contas
de luz é de 2%, ou seja, em Araraquara, a cada três meses, dois
estabelecimentos são descadastrados e cadastrados outros dois como
postos de recebimento de contas. Informado sobre os locais ‘fantasmas’ e
sobre o caso do estabelecimento não-cadastrado cujo nome consta das
contas de energia, ele afirma que fará uma análise para dar uma resposta
oficial. "São casos pontuais. Deve ter
havido um problema no sistema", alega.
De acordo com a assessoria de imprensa da CPFL, a concessionária mantém
30 pontos credenciados em 19 bairros de Araraquara, segundo atualização
do dia 5 de julho.