HC de Ribeirão Preto inaugura banco de tecidos

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP inaugurou nessa sexta-feira, 15, o seu Banco de Tecidos Humanos. A unidade vai suprir lacuna nos procedimentos médicos de alta complexidade no HCFMRP, que atende as regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Franca, Barretos e São João da Boa Vista. O Banco de Tecidos foi planejado para atender a deficiência na obtenção de tecidos músculo-esqueléticos. O evento contou com a presença do secretário de estado da Saúde, professor Giovanni Guido Cerri, e do superintendente do HCFMRP, professor Marcos Felipe Silva de Sá, entre outros.
O médico ortopedista Luis Gustavo Gazoni Martins, coordenador técnico do Banco de Tecidos Humanos do HCFMRP, ressalta a importância, tanto para o Hospital quanto para toda a região de Ribeirão Preto, da implantação do novo Serviço. "Existe uma carência muito grande de bancos de tecidos no Brasil".
O novo Banco de Tecidos será direcionado ao atendimento das cirurgias ortopédicas de alta complexidade. Ele compreenderá a captação, processamento, armazenamento e distribuição de ossos, tendões e fáscia (tecido que recobre o músculo), materiais usados em cirurgias de reconstrução das áreas ortopédicas.
O médico comenta que o projeto tem várias etapas de implantação. Neste primeiro momento, será realizada captação de tecido Músculo-Esquelético (fáscias, ósseos e tendões) provenientes de doadores de múltiplos órgãos com morte encefálica. "Futuramente suas atividades serão ampliadas visando a captação, processamento, armazenamento e distribuição de pele e também de válvulas cardíacas e outros tecidos", comenta Martins.
A doação funcionará como uma doação de órgãos, sendo necessária autorização da família. O funcionamento do Banco contará com a colaboração da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) e da Organização de Procura de Órgãos (OPO) da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Esta última possui serviço estruturado de localização de potencial doador com abordagem e entrevista familiar. A OPO será responsável pela viabilização dos doadores, além da comunicação com o Banco de Tecidos, que realizará a captação e analisará os exames feitos no doador.
Os especialistas garantem que a implantação do Banco Tecidos trará uma série de benefícios para os pacientes e para a Instituição. Os enxertos ósseos coletados serão utilizados em pacientes que, após acidentes, sofreram perdas na estrutura óssea, ou em casos que necessitem se submeter a troca de próteses de quadril ou joelho. Correções de deformidades na coluna ou casos envolvendo tumor ósseo também serão contemplados, e ainda, os enxertos ligamentares em cirurgia de joelho. "Com os enxertos do banco de tecidos, poderemos preservar ou recuperar a função dos membros de vários pacientes, cuja solução é bem mais complexa do que sem o enxerto".
Atualmente, o Serviço de Ortopedia do HCFMRP possui vários pacientes na fila espera, necessitando de enxerto, a maior parte, para a prótese de quadril. Um doador pode fornecer tecido ósseo suficiente para beneficiar de 20 a 30 pacientes. A terapia, além do enxerto, propicia a redução do tempo de internação dos pacientes. A tecnologia utilizada para o controle da qualidade do tecido humano também é de ponta, garante o médico, o que facilita a realização dos transplantes e o tratamento. Os benefícios, então, passam pela saúde do paciente e chegam ao ensino e pesquisa, treinando mão de obra especializada.
O novo serviço, adianta o médico, pretende captar de dois a quatro doadores por mês. Os números podem aumentar, pois "a expectativa da doação é grande e vai depender da colaboração das famílias numa hora de grande sofrimento". Explica Martins que, se a família do doador recebe orientação clara, em geral aceitará a doação.
Estrutura FísicaO projeto arquitetônico e de funcionamento do Banco de Tecidos Humanos é resultado de parceria entre Assessoria Técnica e Arquitetura do HCFMRP; Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e Vigilância Sanitária de Ribeirão Preto.
O Banco de Tecidos do HC ocupará área do andar térreo da Unidade de Emergência do HCFMRP, localizada à rua Bernardino Campos, 1.000. Serão 145 metros quadrados (m2) em espaço que foi reformado e adaptado ao novo Serviço. Contará com administração, sala de recebimento de tecidos e guarda de materiais, sala de armazenamento, sala de criopreservação com nitrogênio, vestiário de barreira, ante câmara, sala de processamento, sala de liofilização, sala de resíduos, lavabo cirúrgico e pass through (ante câmara por que passam os materiais). Todas as áreas foram devidamente adequadas aos padrões determinado pela Portaria do Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária, contando inclusive com controle do numero de partículas no ar das salas de processamento, liofilização, antecâmara e pass through.
O Banco de Tecidos será coordenado por um médico ortopedista e desenvolvido por equipe multidisciplinar. Duas enfermeiras, um biólogo, um oficial administrativo e quadro a seis técnicos de enfermagem realizarão captação e processamento. Para os demais serviços, utilizarão infraestrutura do HCRP. O funcionamento será de segunda a sexta-feira, horário comercial, com toda a equipe, e em sistema de plantão para captação.
O projeto de construção girou em torno de R$ 713 mil. Investimento feito pelo Governo do Estado de São Paulo e pela Fundação de Apoio, Ensino e Pesquisa e Assistência (FAEPA) para aquisição de novos equipamentos, instrumentos cirúrgicos, sistema de ar, mobiliário e obras de instalação.
O arquiteto Alexandre Romano assina o projeto de construção e reforma da área do Banco de Tecidos do HCFMRP, que foi fiscalizado e acompanhado pelo engenheiro Francisco Leonardo Alcaide Lotufo.

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