Estudantes africanos denunciam racismo na Unesp Araraquara

Por Gabriela Martins. Fotos: J.C. Ernesto / Tribuna Impressa
"Sem cotas para os animais africanos". A frase estampada nas paredes do subsolo da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara é curta, mas carregada de preconceito. Ela foi direcionada aos estudantes africanos oriundos do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), que oferece oportunidade de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais.

A inscrição está no local há pouco mais de uma semana e vem gerando revolta entre os alunos da universidade. Daniel Júlio Lopes Soares Cassamá, de 28 anos, veio da Guiné-Bissau para cursar Sociologia há mais de quatro anos e diz nunca havia visto algo do tipo. "Vi pessoas comentando nas redes sociais e fui lá conferir. É algo difícil de digerir, principalmente em um país que se diz irmão."

Cassamá chamou alguns professores da Unesp e, com eles, fez uma denúncia formal na Polícia Militar. O caso foi registrado no 2º Distrito Policial de Araraquara e, desde então, vem sendo investigado pela Polícia Civil.

O jovem africano ressalta que, em meio a tantos alunos estrangeiros matriculados na Unesp Araraquara, eles é que foram alvo da frase. "Não podemos deixar passar. Em Brasília, em 2007, a porta de um apartamento de africanos foi pichada. Ninguém se importou. Algum tempo depois, eles colocaram fogo no local com os estudantes dentro. Se deixarmos isso passar, poderemos sofrer consequências mais graves", preocupa-se.

Alguns estudantes revoltados passaram, então, a responder à frase e deram início a troca de ofensas na parede. Lá, agora, é possível ver escritas as frases e expressões "África Resiste", "Não confunda seres covardes com seres humanos" e "Intolerância com fascistas".
Política X racismo

Para o professor Dagoberto José Fonseca, coordenador dos Grupos de Estudos da Cultura Africana no câmpus da Unesp Araraquara, a atitude não teria partido de uma pessoa só, mas de um grupo. Além disso, a motivação seria política, além de racial. "Uma pessoa escreveu a frase, mas ela foi pensada por um grupo, pois, além de ser preconceituosa, está bem em frente à sala de Ciências Sociais, o que aponta cunho político", acredita o professor.

Ele acrescenta que medidas já vêm sendo tomadas, como a abertura de uma sindicância para investigar e punir os responsáveis. Os autores da frase também poderão responder por danos ao patrimônio público. "Nesta semana, iremos à Polícia Federal para realizar a denúncia de preconceito, pois se trata de crime de preconceito contra estrangeiros", ressalta.

Em maio, serão realizados ainda eventos em comemoração ao aniversário da África e o assunto entrará na pauta com o grupo de estudos União Africana.

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