Réu confesso em processo aberto pelo Ministério Público, que apura
crime eleitoral de troca de apoio político por indicação a cargos
comissionados, Lucas Grecco (PMDB) começou a perder apoio entre os
colegas após a afirmação de Ronaldo de Souza Motta, advogado também
acusado do mesmo crime, de que Grecco conhecia o teor do documento que
assinou.
Antes defensores da permanência do vereador na Câmara Municipal,
diversos parlamentares que votariam pela não suspensão do mandato de
Grecco durante o andamento do processo na Justiça já estão mudando o
discurso e afirmam que agora querem ouvir novamente a versão do colega.
Se o parlamentar não renunciar, a Câmara votará a suspensão ou não do
mandato dele na sessão ordinária da próxima terça-feira, dia 12 de
julho.
Renúncia
Dois vereadores já se posicionaram claramente pela renúncia de
Grecco. Para Luís Cláudio Lapena Barreto, Dr. Lapena (sem partido), "ele
é muito sério, uma pessoa honesta, mas cometeu um crime eleitoral,
mesmo que tenha sido sem saber. O mais correto é ele se afastar".
De acordo com Dr. Lapena, "é complicado pedir para que os vereadores
tomem uma decisão de mantê-lo. Se for a plenário, voto para suspensão
porque ele, mesmo não tendo maldade, pecou e, por lei, tem que pagar por
isso".
Edio Lopes (PT) é taxativo. "Acho que ele deveria renunciar", sentencia.
"A minha opinião é pela suspensão do mandato. A Câmara está em uma
posição delicada, não podemos ser corporativistas". O petista revela que
tomará uma decisão após se reunir com a bancada e a Executiva do
partido.
Conversas
João Farias (PRB), líder do Governo no Legislativo, defendia a
permanência de Grecco e garantia que votaria contra a suspensão do
mandato. Seu discurso, agora, é mais cauteloso. "Com estas novas
informações, quero falar com ele de novo", afirmou ontem. Mantendo a
opinião de que o parlamentar "é uma pessoa séria", Farias admite que
"houve erro".
A mesma posição é adotada por Serginho Gonçalves (PMDB), presidente da
Comissão Permanente de Justiça, Legislação e Redação. "O Lucas é uma boa
pessoa e um bom vereador; não sei se agiu com má-fé, mas quero
conversar bastante com ele antes de tomar uma decisão".
Fernando César Câmara, Galo (PV), não revela como pretende votar.
Segundo ele, "estou analisando a situação com muito cuidado; é um
assunto sério, uma denúncia grave e temos de refletir bastante antes de
tomar uma posição". Para Galo, "ele pode continuar exercendo o mandato e
se defender, se isso não interferir no processo e atrapalhar o trabalho
dele".
Informações
Outros vereadores reclamam que ainda não tiveram acesso ao processo
ou a qualquer documento referente ao caso e querem mais informações
antes de se posicionarem. É o caso de Carlos Nascimento (PT), Márcia Lia
(PT), de Juliana Damus (PP), Tenente Santana (PSDB), Pastor Raimundo
(PP) e Elias Chediek Neto (PMDB).
Juliana e Pastor Raimundo disseram que estão acompanhando o caso apenas
pela imprensa e que querem também conversar com Grecco antes de tomarem
uma decisão sobre como votarão.
Chediek e Santana entendem que votar a suspensão imediatamente pode ser
precipitado. "Preferiria até que não houvesse a votação, não li o
processo e estou acompanhando apenas pela imprensa", declarou Chediek
ontem. "Acordos políticos são feitos desde que o Brasil existe e as
indicações são prerrogativas dos vereadores. A lei não pode ser vista de
forma fechada e oblíqua".
Na opinião de Santana, "para votar, tem de conhecer o processo, ter
acesso às oitivas que a Promotoria colheu, é algo complexo". O
parlamentar tucano entende que "a presidência já deveria ter distribuído
cópias para todos os vereadores e mesmo que a gente receba na
segunda-feira não sei se teremos tempo para ler tudo com calma e
analisar a acusação e a defesa".
‘Todos sabiam o que estavam assinando’, diz acusado
"Os que participaram da prévia concordaram com as condições e sabiam o
que estavam assinando." A afirmação é do advogado Ronaldo de Souza
Motta, um dos cinco acusados de crime eleitoral de troca apoio político
por indicação de cargos nas eleições municipais de 2008.
Motta explica que "a ideia partiu da igreja [Assembleia de Deus]. A
comunidade decidiu que, havendo cinco postulantes, o melhor seria fazer a
votação prévia para escolher o candidato". Segundo ele, o acordo que
resultou no documento posteriormente registrado em cartório — de que os
derrotados apoiariam o vencedor e este, em troca, os indicaria para
cargos públicos — foi firmado antes da prévia.
O advogado reitera que "para participar da prévia, tinha de concordar
com as condições". Portanto, prossegue, "se tem a assinatura no
documento, não tem como não saber do teor dele". De acordo com Motta,
todos os cinco acusados "estavam presentes na reunião" que definiu os
termos do acordo.
Os cinco acusados são, além de Motta e do vereador Lucas Grecco (PMDB),
Alzemir Cezar da Silva, Geani Marques do Nascimento Trevisoli e Marcos
Augusto Bispo.
Ronaldo Motta conta que renunciou aos cargos quando perdeu a prévia. "Eu
queria ser o candidato a vereador; sou advogado e tenho situação
financeira estável, não precisava de cargo de assessor na Câmara
Municipal". Segundo ele, "o Cezar desistiu até da prévia".
Procurados pela reportagem, os outros envolvidos não foram encontrados
ou não quiseram se pronunciar. Lucas Grecco continua sem fazer
comentários sobre o assunto. Os dirigentes da Igreja Assembleia de Deus
não estavam na cidade ontem.