Um grupo de 12 vereadores de Gavião Peixoto, Nova Europa, Boa Esperança do Sul, Trabijú e Ribeirão Bonito elaborou um documento para pedir ao Ministério Público (MP) que cobre soluções para as constantes quedas de energias nas cinco cidades da região.
Entre as alternativas sugeridas pelos legisladores está a suspensão das contas de energia elétrica ou o pagamento delas em juízo - para que a CPFL Paulista, concessionária de energia da região, não tenha acesso ao dinheiro - até que o problema seja resolvido.
A proposta foi aprovada em uma reunião realizada na manhã de ontem, na Câmara Municipal de Gavião Peixoto. O grupo acredita que, unindo esforços e mobilizando-se juntos, eles conseguirão uma solução para os constantes ‘apagões’ que atingem estes municípios há anos.
Os blecautes, segundo os vereadores, são frequentes também em Dourado. Os vereadores de lá foram convidados para o encontro, mas não compareceram à reunião de ontem. Eles terão outra oportunidade na próxima quinta-feira. Os parlamentares voltam a se encontrar em Gavião Peixoto para juntar as moções de repúdio, assinadas por todos os vereadores das seis cidades envolvidas, ao documento que será encaminhado ao MP.
Convivência
Os ‘apagões’ em Ribeirão Bonito, cidade que mais sofre com as frequentes quedas de energia, fazem parte da rotina dos moradores e comerciantes há pelo menos dez anos. Desde dezembro de 2009, o blog Ribeirão do Apagão registra diariamente as quedas ou sobrecargas na rede elétrica da cidade. Pelo "placar" do blog, em janeiro, foram 20 quedas e até o dia 22 de fevereiro, 22 registros.
A contagem da CPFL Paulista é diferente. Eles não consideram quedas cuja duração seja menor que um minuto.
As quedas de energia estão tão presentes no cotidiano da cidade que, neste Carnaval, um dos blocos mais procurados é o Bloco do Apagão. "Fazemos piada, porque chorar não resolve", dispara José Sebastião Baldan, vice-presidente da Câmara de Ribeirão Bonito.
Queixas
Cada vereador falou sobre os problemas em suas cidades, e, juntos, chegaram a uma conclusão: os seis municípios sofrem as mesmas consequências. Na visão deles, a pior de todas atinge a economia e a geração de empregos, porque as grandes empresas não querem se instalar devido aos problemas de fornecimento de energia elétrica, além dos prejuízos das indústrias, comércio e serviços, incluindo os de saúde.
"Nenhuma empresa quer mais vir para Nova Europa", diz o vereador Ari Bocaro. "O gerador do Pronto-Socorro dura pouco", conta Renata Mesquita Magalhães, vereadora de Ribeirão Bonito.
Em Trabijú, segundo o vereador Giovani Feno, as principais vítimas são as muitas granjas da cidade. "Prejudica todo o setor produtivo", afirma Claudio Barbosa, de Gavião Peixoto, organizador do movimento.
CPFL Paulista apresenta solução em março
A explicação da CPFL Paulista para a maior parte das quedas de energia de duração superior a um minuto é a ocorrência de furtos de cabos de transmissão. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, a região de Araraquara tem um histórico ruim quando se fala em furto de material elétrico.
De acordo com a CPFL Paulista, desde 2007, furtos de cabos elétricos de alta tensão têm provocado prejuízos e afetado o fornecimento de energia para as cidades da região. "Nesse período foram registrados 45 furtos, sendo 21 deles somente em 2010 na Linha de Transmissão (LT) que liga Piracicaba até Gavião Peixoto", explica a nota.
As cidades mais atingidas com esses desligamentos, segundo a concessionária, são: Boa Esperança do Sul, Ferraz Sales, Trabijú, Ribeirão Bonito e Dourado.
A solução apresentada pela CPFL também é a mesma desde 2009, em todas as ocasiões em que foi procurada pela reportagem. "A solução definitiva deverá surgir em março deste ano, com investimentos de, aproximadamente, R$ 6 milhões, quando entra em operação uma nova subestação (SE Ribeirão Bonito 2), com carga maior (138 kV contra 69 kV da atual) e abastecida por condutores elétricos sem valor comercial".
As quedas de energia e os prejuízos da população
Cerca de dois mil frangos morreram no dia 11 de dezembro de 2010, no Assentamento do Distrito de Bueno de Andrada, em decorrência do calor. Uma interrupção no fornecimento de energia elétrica impediu o funcionamento do sistema de ventilação em três granjas.
A CPFL Paulista interrompeu o fornecimento de energia por, aproximadamente, cinco horas para reparos na rede. Os produtores afirmam terem sido avisados da interrupção, mas não que seria por tanto tempo.
Cirurgias canceladas
As consequências do blecaute de 16 horas entre os dias 4 e 5 de janeiro de 2011 poderiam ter sido fatais em Ribeirão Bonito, uma das quatro cidades atingidas pelo apagão causado, segundo a CPFL Paulista, por furto de cabos do linhão entre Piracicaba e Gavião Peixoto.
De acordo com informações de Maria Eliza Lazarini Alboleia, diretora de Saúde do município, a bateria do gerador do Pronto-Socorro dura apenas duas horas. "Foi o caos. Cesarianas foram desmarcadas às pressas. Tinha gestante já preparada para o parto. Ficamos sem fazer eletrocardiogramas", descreveu. "A qualquer momento poderia chegar alguém. Sem energia no PS, se ocorresse algo, poderia ser fatal", completou a diretora.
Café queimado
A falta de energia na tarde do dia 2 de fevereiro de 2011 em Ribeirão Bonito causou prejuízos de mais R$ 80 mil a uma indústria têxtil e uma processadora de café da cidade. Na confecção, placas eletrônicas, motores de 160 cavalos e aparas de tecidos foram perdidos. "Ficamos horas sem produzir, dobramos os custos com horas extras, fora o estresse", reclama Sérgio Godoy, proprietário da Têxtil Godoy.
O mesmo blecaute provocou a explosão de uma máquina industrial da empresa Café Ribeirão Bonito. De acordo com o proprietário Marcos Antônio da Silva, a queda da energia ocorreu em um momento crucial do processo de torra do café, quando um cilindro estava trabalhando a 500oC. "O café deveria receber um choque térmico para resfriar. Antes disso, a energia acabou, o café incinerou dentro do cilindro e explodiu", conta.
O prejuízo calculado pela Café Ribeirão Bonito chegou a cerca de R$ 10 mil, e inclui a compra de um gerador para conviver com os blecautes.
