Os mais novos podem não se recordar. Mas houve um tempo em que, além dos cinemas nos shoppings da cidade, Araraquara tinha outras quatro salas: Capri e Plaza, onde hoje funcionam igrejas evangélicas; Veneza, que em breve dará lugar a uma loja de eletroeletrônicos; e Coral, a maior delas, que no momento encontra-se desocupada.
Preocupados com o fim dos espaços culturais de exposição da sétima arte na cidade e pensando na possibilidade de ainda salvar um deles, o livreiro e doutor em Literatura pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marcos Valério Murad uniu-se ao cabeleireiro Marcelo Correa para dar vida a um ousado projeto: sensibilizar a Administração local a comprar e restaurar o Cine Coral, na Avenida Sete de Setembro, para reabri-lo para a exibições de filmes de artes e comerciais, com sessões gratuitas e com preços mais acessíveis.
Em torno de 20 dias, eles começarão a reunir assinaturas em um abaixo-assinado para entregar à Prefeitura junto com a proposta de compra e restauração do espaço desativado no final dos anos 1980 e com capacidade para 1.200 espectadores.
Segundo Murad, o orçamento de compra e restauro deve ultrapassar R$ 1 milhão. Mas a proposta de recuperação de um espaço cultural está acima das questões orçamentárias. "Estou certo de que todos os moradores de Araraquara, pelo menos os mais sensíveis à arte cinematográfica, gostariam de contar com um cinema ali. O local é próspero e movimentado, uma região em que se concentram os melhores restaurantes e bares da cidade, além da imensa população estudantil", afirma Murad.
Ele lembra que várias cidades da Região, como São Carlos e Ribeirão Preto, já desenvolveram projetos similares. "Em São Carlos, por exemplo, a Prefeitura comprou a sala do antigo cinema, reformou e entregou à iniciativa privada. A sala do Cine Coral é muito maior e aqui teríamos um movimento e uma estrutura muito superiores", analisa.
Apoiadores
Além dos idealizadores, o projeto conta com o apoio do professor universitário José Pedro Antunes e do escritor araraquarense Ignácio de Loyola Brandão. "O Zé Pedro vai realizar uma grande festa em frente ao cinema para chamar a atenção das pessoas para o projeto. Já o Loyola disse que vai escrever a respeito. Apoios como estes são essenciais", afirma.
A informação é confirmada pelo escritor, que atendeu à reportagem em meio a um compromisso pessoal. "Vou escrever uma crônica para a Tribuna Impressa falando a respeito do Cine Coral. Ainda não sei ao certo o conteúdo, pois ainda não conversamos direito. Mas apoio essa ideia", reforça.
Saudosismo
Morador do bairro há 50 anos, Marcos Murad lembra emocionado das matinês aos domingos no Cine Coral. "Assistia a dois filmes que iam das duas às seis da tarde. Depois parava na Sorveteria do Japonês, na esquina da Rua 10 com a Avenida Sete de Setembro, e tomava um sorvete de creme suíço e flocos. A plateia era sempre gigantesca", lembra.
Loyola, que atuou como crítico de cinema no início da carreira, também era frequentador do local. "Morava perto do Coral e sempre que podia estava conferindo alguma produção", confessa o escritor.
Projeto está fora dos planos da Prefeitura
Apesar de toda a movimentação que a classe intelectual da cidade está formando pela retomada das atividades no Cine Coral, o secretário de Comunicação da Prefeitura, Paulo Rodrigues, afirmou que o projeto de compra e restauração do espaço está fora dos planos da Administração local para o orçamento de 2011. "Para este ano, não temos esse plano. Claro que sempre temos interesse em preservar a história e a cultura da cidade. Mas, até agora [ontem], não fomos procurados pelos organizadores do movimento e, pelo menos para nós, não há nada de concreto quanto a isso", diz Rodrigues. "Além do alto custo, a Prefeitura tem outros interesses no momento", completa Rodrigues.
Marcos Murad disse que procurou a secretária municipal de Cultura, Euzânia Andrade, há uma semana para falar sobre a ideia. Euzânia está em período de férias.