Cidade ainda não adotou programa federal para a saúde do homem

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, documento elaborado em 2008 pelo Governo Federal, ainda está em fase de planejamento e discussão em Araraquara. Um de seus principais objetivos é promover ações que contribuam significativamente para a compreensão da realidade masculina nos seus diversos contextos. Existe também um respeito aos diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão. Esse conjunto possibilita o aumento da expectativa de vida e a redução dos índices de mortalidade por causas preveníveis e evitáveis nesta parcela da população.

A formulação do projeto pelo Ministério da Saúde foi embasada por dados que revelavam que, a cada três mortes de pessoas adultas, duas eram de homens. Juntava-se a isso a estatística de que eles vivem, em média, sete anos menos que as mulheres e têm maior incidência de doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevada.

Passados três anos, uma pesquisa feita com 501 homens entre 45 e 65 anos nos Estados Unidos, por iniciativa da Rede de Saúde do Homem dos EUA e pela empresa Abbott, mostra que a preocupação do homem com a própria saúde ainda é um obstáculo a ser vencido - cerca de 70% dos entrevistados
considera mais fácil cuidar do carro do que da sua própria saúde.

O médico Walter Manso Figueiredo, diretor do Serviço Especial de Saúde de Araraquara (Sesa), diz que a implantação do programa "Saúde do Homem" do Ministério da Saúde está em fase de discussão de prioridades e organização e, provavelmente em dois meses, deve estar funcionamento na cidade.

Porém, ele lembra que qualquer pessoa, homem ou mulher, pode procurar médicos especialistas e ser atendido em qualquer outro programa de saúde, de forma a prevenir as doenças tipicamente masculinas ou outras.
Mulheres levam companheiros ao médico
O médico urologista Oswaldo Luis Luz Lima confirma a dificuldade que os homens têm em procurar um médico. Isso se agrava quando eles não têm nenhum sintoma que os preocupe, de forma que os exames preventivos quase nunca são feitos.

Entretanto, Lima acredita que esse quadro está mudando, especialmente entre pacientes com idade acima de 40 anos, época em que começam a surgir os problemas na próstata.

Segundo Lima, as mulheres, que têm uma cultura de prevenção de problemas de saúde, estão levando seus companheiros ao médico para fazer exames preventivos, como dosagem antígeno prostático específico (PSA), diabetes, gorduras do sangue, hemograma completo, hormônios dehidro-epi-androsterona (DHEA) e testosterona, além das avaliações clínicas.

Segundo o urologista, depois dos 55 anos, os homens começam a apresentar deficiências hormonais e precisam de reposição, assim como acontece com as mulheres na menopausa. Só que o nome é diferente - andropausa. "Porém, se surgirem sintomas como diminuição da libido ou do vigor físico, queda de pelos ou fogachos (calorão), independente da idade, o médico deve ser procurado", explica Lima.

Ele diz ainda que, de uma maneira geral, os homens só procuram o médico quando apresentam sintomas que os incomodam, mas levam o carro para a revisão sem atrasar um dia sequer. "Hoje em dia, os problemas que mais causam morte no público masculino são os cardiovasculares, como infarto e derrame cerebral, que evoluem sem apresentar sintomas."
Caminhão recebe mais cuidados
O casal Maria e José, - eles preferem se identificar apenas com os primeiros nomes - de 56 e 60 anos, é um exemplo da influência da mulher nos cuidados com a saúde do homem. Ela é bancária aposentada e ele, caminhoneiro, que nunca deixou faltar nenhum tipo de cuidado ou manutenção a seu veículo, pois viaja constantemente. Porém, por força da profissão, sempre se alimentou de maneira descontrolada, consumindo comidas pouco saudáveis.

Há cerca de sete anos, José começou a sentir muita sede e perdeu peso rapidamente. Com muita insistência, a esposa o levou ao médico e foi constatado que ele estava com diabetes tipo 2. Hoje, faz tratamento com remédios e a taxa de açúcar no sangue está controlada. Mas, a cada seis meses, José vai ao médico. "Nunca gostei muito de ir ao médico, mas não quero deixar o problema piorar", diz.

A dona de casa Maria Eliza Belardo, 46, e o eletricista automotivo Antonio Luis Belardo, 50, contam uma história parecida. Como são inseparáveis, ele sempre a acompanha na consulta semestral ao ginecologista. Em contrapartida, vai ao urologista uma vez por ano fazer os exames preventivos, sob supervisão dela. "Se minha mulher vai ao médico de vez em quando, eu também posso ir", brinca ele.

O trabalhador rural Gildázio Cedro Alves, 45, nem precisa de companhia ou convite. Divorciado, ele conta que todos os anos, durante as férias do trabalho, procura o médico para ver como anda sua saúde. Mas isso só porque viu o sofrimento de um amigo que precisou operar a próstata. "Antes, eu tinha medo de me consultar. Achava que procurava o problema. Agora, eu sei que, quanto mais cedo for descoberta, mais fácil será tratar a doença."

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