A Casa Cairbar Schutel, hospital referência para o
tratamento psiquiátrico e de dependência química na Região, corre o
risco iminente de fechar as portas e encerrar suas atividades devido a
dívidas que passam dos R$ 2,3 milhões e a um déficit mensal de R$ 116
mil.
O Ministério Público propôs que as 24 cidades da Diretoria Regional de
Saúde que utilizam os serviços do Cairbar rateiem o valor da dívida para
pagamento por três anos — cada uma arcaria com um valor proporcional à
sua população — para que o hospital não seja fechado.
Custos
De acordo com a direção da Casa, sua manutenção mensal custa cerca de
R$ 240 mil, dos quais R$ 180 mil são cobertos com repasses do Sistema
Único de Saúde (SUS).
Em tese, a unidade tem capacidade para atender a 310 pessoas. No
entanto, hoje, apenas 240 vagas - 120 de internação e 120 de outras
atividades - estão disponíveis porque o Cairbar está no limite de sua
capacidade orçamentária.
Para cobrir a defasagem do orçamento, a direção fez um empréstimo no
valor de R$ 2 milhões, a serem pagos em 36 parcelas de R$ 56 mil. Até
agora, apenas sete foram pagas. Desta forma, o custo mensal passa a R$
296 mil, fora o déficit de R$ 116 mil.
Além do empréstimo, a unidade deve mais R$ 182 mil a fornecedores e
outros R$ 214 mil em obrigações sociais. Estas últimas, são as que mais
preocupam, pois, se forem executadas - o que pode ocorrer a qualquer
momento - fatalmente levariam a instituição à falência.
A direção do hospital revela que não recebe recursos da Secretaria de
Estado da Saúde desde 2009, quando uma verba de R$ 25 mil para
tratamentos foi utilizada no pagamento de contas. "A Secretaria achou
que fizemos isso de má-fé, bloqueou outras verbas estaduais e ainda
pediu os R$ 25 mil de volta. Como resolveremos isso?", questiona Nelson
Fernandes Junior, diretor-presidente do local.
De 2003 a 2010, segundo o diretor, há R$ 2,2 milhões em verbas de
serviços prestados ao Estado que não foram recebidos — quase o valor
total da dívida do hospital, que chega aos R$ 2,356 milhões.
Para o diretor, é fundamental a mobilização das cidades para o serviço
ter continuidade. Caso contrário, a Casa Cairbar pode parar suas
atividades depois de quase 40 anos de trabalho.
Para uma entidade filantrópica como o hospital em questão, o preço médio
do atendimento diário é de R$ 100 por paciente. Atualmente, metade
desse valor é arcado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a outra metade
pela Casa Cairbar.
Se o hospital fechar as portas, os municípios terão de dispensar muito
mais verbas para o tratamento de seus pacientes em outras localidades
ainda mais distantes.
Apenas em 2010, Araraquara realizou 607 internações na Casa Cairbar Schutel.
Reformulação: direção quer abrir atendimento para particulares e convênios
Um novo método de atendimento com base em três programas está sendo
traçado pela direção da Casa Cairbar Schutel para 2014. Atualmente, o
quadro geral conta com 310 vagas, mas a meta é reduzir para 220, a fim
de garantir melhor atendimento nos serviços. Também é cogitada a
abertura de atendimento para particulares e convênios. "Hoje não fazemos
o nosso melhor", diz Nelson Fernandes Junior, diretor-presidente do
hospital.
Os três planos de atividades são voltados para os públicos que a Casa
Cairbar recebe — moradores de rua em vulnerabilidade, pessoas com
transtornos mentais e dependentes químicos.
O plano Alvorada oferece reinserção social sob a perspectiva da
sustentabilidade, com apoio e recuperação para quem não está ‘encaixado’
na sociedade. O plano Lótus visa tratar pessoas que sofrem de
transtornos mentais. Por fim, o plano Fênix é voltado para o tratamento
de dependentes químicos.
Para fazer o atendimento pleno e poder estender a particulares e
convênios, a Casa Cairbar necessita de uma série de reformas
estruturais. "O prédio é da década de 70 e precisa readequar-se para os
novos métodos de tratamento", diz Fernandes Junior.
Um arquiteto traçou algumas das alterações, que englobam quebra de
pavilhões, construção de unidades menores e mais seguras, ala para
psiquiatria intensiva, espaço para convênio e particulares e realocação
dos serviços extra-hospitalares. O custo do metro quadrado de construção
foi orçado em R$ 700.
Cidades deveriam dividir custos, diz Promotoria
A promotora da área de Saúde Pública, Noemi Corrêa, convocou uma
reunião entre gestores de saúde e membros do Judiciário de todas as
cidades que usam os serviços do Cairbar para analisar as atuais
condições do hospital e analisar a continuidade dos atendimentos. "A
situação financeira está complicada e não está dando para continuar. O
repasse do SUS é o único dinheiro público que entra", diz a promotora.
A medida paliativa apresentada pelo Ministério Público consiste no
rateio de R$ 70 mil, valor do déficit mensal da Casa Cairbar sem o
empréstimo, entre as 24 cidades que usam seus serviços pelos próximos
três anos — depois disso, acredita-se que a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 29 esteja em vigor e o valor de repasse do SUS para
os hospitais tenha dobrado.
Para haver igualdade entre as contribuições, a promotoria sugeriu
cálculo com base na população da cidade. Araraquara e São Carlos, as
maiores da Regional, repassariam ao hospital entre R$ 15 mil e 16 mil.
Trabiju, a menor de todas, arcaria com apenas R$ 114,16 mensais. "Estes
recursos serviriam para mantermos o atendimento como está sendo feito
hoje", encerra o diretor-presidente.
Proposta
Cerca de dez gestores participaram e mostraram-se satisfeitos com a
proposta, que foi encaminhada na forma de Termo de Compromisso emitido
pelo Ministério Público para cada Prefeitura. Agora, os prefeitos
ouvirão seus gestores de saúde e analisarão a viabilidade de fazer este
repasse à Casa Cairbar.